Faleceu semana passada um dos grandes representantes
do movimento moderno no Brasil, o arquiteto José Filgueiras Lima, mais
conhecido como Lelé. Suas obras tornaram-se referência tanto pelo seu rigor técnico,
particularmente em relação à pesquisa de materiais e utilização de estruturas pré-moldadas, quanto por sua sensibilidade e adaptação ao clima local. Dentre as suas obras
mais emblemáticas, destacam-se os seus projetos para a rede Sarah de
Hospitais. Tive a oportunidade de
visitar uma dessas unidades em 2009 pouco antes de sua inauguração - o Centro Internacional Sarah de
Neuroreabilitação e Neurociências, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
O Hospital é tido como um dos programas mais complexos que se pode projetar dentro da arquitetura; os fluxos não podem se cruzar devido ao risco de contaminação, a ventilação deve ser controlada, a gestão de resíduos também deve que seguir uma série de procedimentos específicos, etc. Apesar dessa rigidez, o traço do arquiteto não é ofuscado pela busca da funcionalidade.
A beleza da composição jaz no contraste entre a força da repetição e a leveza das coberturas curvas. |
Além do hospital, há um auditório para eventos e conferências médicas. Esse adota uma forma lúdica - quase uma gota - e possui uma clarabóia cuja abertura assemelha o movimento do desabrochar de uma flor.
Lelé se preocupava muito com o conforto térmico e a eficiência climática dos seus edifícios. Uma solução quer reflete essa preocupação, e se faz presente na maior parte dos espaços do hospital, é a existência de uma claraboia retrátil interna. Nos dias mais frios, essa é fechada, diminuindo o volume interno dos espaços e portanto a demanda de ar condicionado. Em dias mais frescos, essa cobertura é aberta, o que permite uma ventilação natural a partir dos 'sheds' presentes na cobertura superior.
Jardim interno refresca e alegra o ambiente |
Acesso à deficiente físico |
Cores lúdicas e espaços claros tornam o ambiente mais leve e aliviam o peso do tratamento. Estes fatores influenciam na recuperação e na autoestima dos pacientes. |