Inicio com este texto uma série sobre a Bienal de Arquitetura de Veneza em 2014. A bienal deste ano teve curadoria do arquiteto holandês Rem Koolhaas e permanece em exposição do dia 7 de Junho a 23 de Novembro deste ano, 3 meses a mais do que o habitual para uma bienal de arquitetura. A mostra é dividida em diferentes segmentos principais e neste texto vou abordar a exposição “Monditalia”, que está atualmente exposta no Corderie Arsenale.
O pavilhão de l’arsenale abrigou nesta edição uma mostra
dedicada inteiramente ao País sede da bienal – a Italia. Traçando um retrato de norte ao sul do País,
a mostra abordou temais variados passando pela imigração, a instabilidade
política nacional, as ruínas do modernismo à evolução das discotecas de Milão. Vemos uma Itália influenciada pelos
interesses do mercado imobiliário e suscetível aos efeitos do turismo de massa,
como ocorre com Veneza e Assis. São ressaltados
também os problemas de patrimônio, os desafios da preservação e as
transformações trazidas pelas mudanças climáticas, tais como as fronteiras
físicas na obra “Italian Limes”.
A mostra conta com painéis e vídeos apresentando pesquisas
e estudos de caso, porém é o tempo todo acompanhada por projeções de filmes que
ajudam a criar um imaginário do País.
Dentre eles, vemos cenas dos filmes “Le mépris” de Jean Luc Godard,
“Roma” Frederico Fellini, “Caro diário” de Nanni Moretti, o “Deserto vermelho”
de Michelangelo Antonioni , “Beleza Roubada” de Bertolucci, entre muitos
outros.
Para além do cinema, a exposição busca intercalar
diferentes setores de arte – foram montados palcos que permitem a realização de
espetáculos de dança, teatro e música no meio da exposição.
A seguir, destaco algumas das obras expostas:
Roma – San Giacomo Hospital – the ghost block of giambattista nolli
A obra propõe uma análise sobre as ruínas contemporâneas
e o descaso com as instituições públicas.
Ground floor crisis - Primo Piano Patrimônio
Uma grande inundação nas cidades de Florença e Veneza em
1966 trouxe a tona o problema do pavimento térreo e a preservação do patrimônio
nos centros históricos. Esse movimento
também elimina a separação entre o dentro/fora e o público/privado, dando margem
a uma nova percepção de cidade - a cidade anfíbia.
Biblioteca Laurenziana de Michelangelo
“Michelangelo takes each architectural element
and forces it into new shapes and new relationships” Rem Koolhaas.
I resti di uno miracolo
Panorama de fotografias de obras do modernismo italiano
com questionamentos sobre o destino dessas edificações:
“As obras primas do
modernismo italiano, construídos durante os prósperos anos das décadas de 50 e
60, produtos da ambição política industrial e econômica, refletem a pesquisa
daquela época. Esses prédios encontram-se hoje em estado de abandono e
negligenciados. Isso traz um retrado da
realidade italiano a cerca da:
- nascimento, vida
e morte da economia italiana. Os ciclos;
-o sonho progressista
dos arquitetos e engenheiros italianos,
- a qualidade
inerente da pesquisa arquitetônica e construtiva,
- a
(im)possibilidade do futuro da arquitetura
-nossa incapacidade
de protegê-la
-nossa incapacidade
de reutilizá-la
-nossa incapacidade
de reciclar ideias
-o fato que
construir algo novo é mais barato do que restaurar, construir é mais barato do
que demolir
- a arquitetura tem
uma vida curta e o arquiteto não é responsável pelo seu tempo de vida
- a realidade é
mais forte do que a arquitetura
- a arquitetura moderna não se mostrou flexível o suficiente ao longo
do tempo”