Anualmente, a Galeria Serpentine de Londres convida um
arquiteto de renome internacional que (até então) não tenha uma obra construída
na Inglaterra para projetar um pavilhão que será aberto ao público durante os
meses de verão, no Kensington Gardens. Neste
período, são organizados shows, debates, palestras e demais eventos culturais
que mantém esse espaço vivo. A
iniciativa começou no ano 2000, com um projeto da iraniana Zaha Hadid, e desde
então já participaram arquitetos como Daniel Liebeskind, Toyo Ito, Oscar
Niemeyer, Rem Koolhaas, Jean Nouvel, entre outros. Houve até mesmo cooperação
entre artistas e arquitetos como foi o caso da edição de 2012, que contou com a
parceria de Herzog e De Meuron com o artista Chinês Ai Weiwei.
Tive a feliz oportunidade de visitar alguns destes pavilhões:
o pavilhão projetado por Frank Gehry(2008), o do escritório SANAA (2009), de
Peter Zumthor(2011) e, mais recentemente, o projeto do escritório espanhol SelgasCano(2015).
Neste texto, apresento um breve olhar sobre essas 4 construções temporárias.
Frank Gehry, 2008
Pavilhão de Frank Gehry(2008). Na foto da esquerda podemos visualizar a Galeria Serpentine no fundo. |
Os projetos desconstrutivistas do canadense Frank Gehry são
bem conhecidos por suas formas exuberantes e inusitadas. Este pavilhão não é
uma exceção. Achei interessante como,
entre todos os pavilhões que visitei desta série, este me pareceu o mais perene,
o mais permanente de todos. Os materiais aqui empregados são de alta qualidade,
o que garantiu um acabamento bem executado e com aspecto duradouro. Além disso, a implantação do objeto foi muito bem
pensada: A composição do espaço organizava-se em torno de um vazio central, uma abertura que possibilitava a visão sobre a Galeria Serpentine ao fundo. Ou seja, o
anexo temporário teve uma preocupação de se integrar com a construção existente do
entorno.
SANAA, 2009
Foto: Iwan Baan Fonte: www.archdaily.com |
Aberto nas laterais, o Pavilhão Serpentine assinado por
SANAA tinha como elemento principal uma cobertura sustentada por pilares
finíssimos e esbeltos. Esta era revestida por chapas de alumínio altamente reflexivas que refletiam o piso e o entorno. Com isso, a sensação que nos dava é que o
jardim adentrava o pavilhão. Esse
sentimento era enaltecido pela própria forma orgânica e sinuosa da cobertura, que estabelecia uma distorção discreta, dando uma impressão de continuidade
entre o chão e o teto. Para
não dizer que não haviam paredes, foram criados pequenos núcleos que contavam
com divisórias curvas de acrílico que não interferiam sobre a visão do jardim. O pavilhão oferecia refúgio da chuva mas não se tratava de um abrigo hermético - o visitante permanecia o tempo todo em contato com o jardim.
Peter Zumthor, 2011
O pavilhão de Peter Zumthor já foi tema do blog no artigo: Pavilhão Serpentine de Peter Zumthor .
Em resumo, o arquiteto colocou uma fortaleza negra no meio do parque e, no seu interior, um jardim intimista. A força da obra estava no contraste entre o
exterior austero e a delicadeza e colorido das flores do jardim interno. A
transição entre estes dois espaços era realizada através de um corredor escuro,
com aberturas pontuais de luz. A composição não era muito apropriada
para a realização de eventos, palestras, etc, mas fez bastante sucesso como
café e espaço de descanso. Eu diria que o ponto alto do projeto foi como o arquiteto explorou a
espacialidade e o contraste entre os diferentes momentos da obra.
SelgasCano, 2015
Fui lá numa típica manhã Londrina - nublada e chuvosa. Uma
pena pois imagino que este pavilhão, com suas cores vibrantes, seja muito mais
bonito e impactante sob a luz do sol.
Mas convenhamos que Londres não é propriamente conhecida pelos seus dias
ensolarados. Aceitei a meteorologia e tentei aproveitar o passeio.
Fitas fazem referência as linhas do metrô de Londres |
A criatividade e o colorido impressionam neste projeto. Inspiradas no
dinamismo e na conectividade do sistema de metrô londrino, as fitas criam um
percurso próprio, quase labiríntico, o que permite ao visitante contornar o
objeto e adentrá-lo várias vezes por diferentes acessos. No interior,
encontramos mesinhas e um ponto de venda de café.
Café no interior do Pavilhão Serpentine 2015 |
A arquitetura de pavilhões lida sempre com a questão da efemeridade. Como a obra dura poucos meses, ela dispõe de um frescor e uma liberdade criativa muito maior do que a maioria das construções. Ela pode ousar mais porque, se algo não der certo, não tem tanto problema pois será desmontada num futuro próximo. Por outro lado, muitas vezes os acabamentos destes pavilhões deixam muito a desejar exatamente por isso. São feitos para uma montagem e desmontagem dinâmica. Senti isso no projeto de SelgasCano.
O pavilhão possui poucas aberturas para ventilação e a vedação em plástico faz com que o interior se torne quente nesses meses de verão. Além disso, a escolha do material, uma espécie de lona translúcida, não apresenta nada de muito inovador e acaba se assemelhando a muitas estruturas de tendas que encontramos por aí. Trata-se de um projeto que impressiona muito nas fotos mas pessoalmente não é tão espetacular.
A relação com o entorno imediato também foi pouco explorada - o encerramento do espaço mais se assemelha a um túnel. As circulações em volta do objeto também direcionam o nosso olhar para dentro, não para fora. Um movimento de admiração do próprio objeto, um olhar ensimesmado desconsiderando o contexto.
Corredores encerrados por fitas coloridas encerram o pavilhão |
dia 18 de Outubro, 2015, no Kensington
Gardens, em Londres.