A obra de Louis Kahn é considerada por alguns críticos como um marco na história da arquitetura, responsável pela transição do Movimento Moderno ao Pós-modernismo. Kahn utilizava materiais e tecnologias modernas nas suas construções, porém reconhecia a importância de elementos clássicos da arquitetura, tais como o eixo, o ritmo, a simetria, proporção e hierarquia. O Salk Institute, projetado pelo arquiteto no final dos anos 50, reúne estes elementos no edifício que é considerado uma de suas obras primas.
Vida e Obra de Louis Kahn
Kahn nasceu em Oesel, na Estônia, em 1901, e mudou-se para
os EUA em 1905. Para Martin Filler, o autor de "Makers of Modern Architecture”,
o fato do arquiteto ter nascido neste ano foi ao mesmo tempo uma de suas grandes
sortes e um dos seus maiores desafios. Isso
se deve ao fato de que, durante a sua juventude, ele vivenciou as duas grandes
guerras e, entre elas, a crise de 1929, que estagnou a construção civil no país
e acabou por si só com a carreira de muitas pessoas da área. Por isso, Kahn
teve pouca experiência em construção até relativamente tarde.
Kahn estudou na faculdade de Pensilvânia, que seguia uma
linha de ensino historicista, onde ele aprendeu sobre os princípios clássicos
da arquitetura. Esse conhecimento foi posteriormente aprofundado em viagens que
o arquiteto fez à Grécia e à Itália. Entre 1950 e 51, ele ganhou uma bolsa para
estudar arquitetura romana em Roma. Lá,
Kahn familiarizou-se com os processos de fabricação e viu de perto as
estruturas de tijolos dos grandes edifícios. Não é de se surpreender, portanto,
que a sua arquitetura propôs um retorno, um novo olhar sobre as tipologias
antigas.
Foi a partir do seu regresso aos EUA que ele começou a
afirmar o seu estilo próprio – em 1951 no projeto para a Galeria de Arte de
Yale e, em 1959, com o Instituto Salk.
Circulação no nível térreo, estrutura de concreto aparente e piso em mármore travertino |
O Instituto Salk para Estudos Biológicos
Em 1959, Jonas Salk – o cientista que desenvolveu a vacina
para Polio e fundador do instituto – entrou em contato com Kahn para a
realização do projeto. O programa do
instituto foi desenvolvido a partir de conversas entre os dois, que
compartilhavam interesses mútuos e uma mesma visão para o empreendimento. Salk pediu a Kahn "um edifício digno de uma
visita de Picasso" (não apenas pelo pintor ser um dos grandes gênios do século
XX, mas também porque ele era o ex-marido da esposa de Salk).
Vista do complexo a partir da entrada |
O Instituto fica há
aproximadamente 2 horas de carro de Los Angeles, em La Jolla, no norte de San
Diego. O terreno de 27 acres foi doado pelo
então prefeito da cidade devido ao seu interesse em trazer esse importante
instituto de pesquisa para San Diego. O local é próximo da costa, o que permite
uma bela vista do Mar Pacífico a partir do pátio central do conjunto.
O pátio talvez seja o espaço mais simbólico do projeto. Sua
importância é tão fundamental no projeto que Kahn chegou a pedir conselhos ao mexicano
Luís Barragán. Originalmente concebido
como um jardim arborizado, foi Barragán quem insistiu para que a praça fosse de pedra, sem qualquer tipo de vegetação.
Nas palavras dele: “ao fazer uma praça livre, o conjunto ganharia uma nova
fachada, uma fachada para o céu”. O resultado é um plano que se perde no
horizonte, entre céu e mar.
Pátio Central |
Os blocos de pesquisa – as ‘study towers’ – são simetricamente organizadas ao redor do pátio. A repetição dos módulos idênticos atribui ritmo à composição. A homogeneidade dos blocos é vista como um gesto democrático visto que um departamento não se destaca mais do que outro. Além disso, é comum as pessoas pararem para pedir informações umas às outras para saber onde fica determinado laboratório, já que são todos tão parecidos. Salk queria que este fosse um complexo que estimulasse a convivência e a troca entre as pessoas.
Blocos de Pesquisa - 'Study Towers' |
Pátios internos no subsolo |
Circulação semi aberta entre os escritórios |
Amplas esquadrias de vidro para entrada de luz. |
Material
A escolha do material do piso – o mármore travertino – está
relacionada tanto à sua importância histórica quanto pela sua alta resistência
aos efeitos do clima e do tempo. Essa é
uma importante consideração já que o instituto fica à beira mar. O mármore e o
concreto da estrutura estavam em ótimo estado, o que já não podemos dizer sobre
a madeira Teca, aplicada na fachada.