Fonte: http://projecaoconstrutiva.blogspot.com.br/2011/09/influencia-wrightiana-no-brasil-casa.html
No
projeto para a Casa Paranhos(1942-1944)
foi preservada uma fidelidade à concepção artesanal. As janelas fixas na
fachada seguem um plano contínuo, sempre muito próximas da linha do
telhado. As janelas de esquina contribuem para uma diluição da forma. O espaço interno fluido se reflete nos volumes externos. A composição impressiona pela nitidez,
pelo rigor mas também por sua leveza.
A Casinha. Fonte: http://www.vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/casa-vilanova-artigas
Casinha (1942), primeira obra que o arquiteto
projetou para si mesmo, o que lhe proporcionou uma liberdade que até então ele
não tinha nos outros projetos. Havia pouca
diferença entre fachada principal, de frente e de fundos, rompendo assim com
uma hierarquia entre partes. O espaço
interno dispunha de poucas divisórias, oferecendo assim uma fluidez entre os
ambientes.
O envolvimento
político de Vilanova Artigas
Artigas se associou ao partido comunista em 1945. Dois anos depois, com
a cassação do registro do partido, sua participação política torna-se ainda
mais assídua, o que fomenta o seu compromisso social e o tom cada vez mais
exaltado de seus artigos.
Em 1952, ele publicou o polêmico “Caminhos da
Arquitetura”, onde contesta agressivamente os dois maiores arquitetos
modernistas da atualidade: Frank Lloyd Wright, que tanto havia influenciado a
sua arquitetura até então, e Le Corbusier.
Estes são taxados por ele como 'arquitetos de elite', criticados por produzir uma
arquitetura voltada apenas para as classes dominantes. Artigas encarava a filosofia de Corbusier como
decorrente de um pensamento ingênuo, fundamentado na busca evasiva de um mundo
utópico composto de formas puras, sem um real
compromisso com a construção. Isso sem contar que se aproveitava da arquitetura
de modo que esta servisse para reforçar a dominação do homem pelo capital. Trata-se um documento que exala a tensão
daquele momento político vivido pela esquerda, caracterizado por embates
ideológicos do período da guerra fria e a campanha contra o imperialismo
americano.
Fonte: http://vilanovaartigas.com/cronologia/periodos/1950-1959?page=3
Artigas era um homem
inquieto e acreditava que a única maneira da arquitetura proporcionar mudanças
significativas para a sociedade seria através de alguma relação política. Caso contrário, o conflito entre as classes
jamais seria resolvido. A política
deveria, portanto, ser visada como um componente intrínseco na arquitetura e
essa associação entre ambos era um atributo que todo arquiteto deveria
reconhecer e almejar em seus trabalhos. Com
isso, Artigas passa a considerar em seus projetos a função social do arquiteto,
sempre enfatizando a arquitetura como crítica à realidade.
A influência de Le Corbusier na obra de Vilanova Artigas - uma reviravolta no seu discurso (1945)
Suas convicções
políticas fizeram com que o arquiteto levantasse uma série de questionamentos
quanto a mensagem exprimida em sua arquitetura. Ao defender uma arquitetura
majoritariamente artesanal, não estaria Artigas negando o progresso, algo tão
fundamental para o desenvolvimento da nação brasileira? Estaria a submissão de
suas obras à natureza demonstrando uma descrença na capacidade humana? Artigas
faz mais do que simplesmente refletir sobre o significado de suas obras - Ele
reavalia sua maior fonte de inspiração.
A impessoalidade da
geometria de Le Corbusier, por outro lado, corresponde a um anseio de
democratização da forma moderna. Similarmente,
o incentivo de Walter Gropius à produção em larga escala viabiliza o acesso das
massas a esses produtos. Com isso, a
tecnologia torna-se cada vez mais presente nas obras de Artigas. A arquitetura
se afata da natureza e se aproxima do urbano e do processo industrial.
A partir de 1945, Artigas abandona
de vez a sua submissão à natureza e dedica-se à compreensão e aprimoramento das
técnicas construtivas visando materiais modernos. Evidenciam-se em suas construções a sua
atração pela crueza do material, as suas preocupações com o espaço interno e a
unificação do mesmo com o sistema urbano, intercalando a organização racional
com estudos psicológicos. Dentre suas principais características, predominam os
volumes geométricos puros, sendo esses frequentemente coroados por uma
cobertura em V e constituídos de espaço interno fluido que conferem ao conjunto
um dinamismo através do jogo de rampas e níveis desencontrados. Isso sem contar com a interação do espaço
encerrado com o ambiente externo, realizado por meio de grandes vãos na fachada e a continuidade com o piso da calçada.
Projeto de Sua Segunda Casa(1949)
A segunda residência do arquiteto foi construída
no mesmo terreno da “Casinha”. Há um forte
contraste entre as linguagens das duas residências. Enquanto a primeira remete a um processo
construtivo mais artesanal, através do uso de madeiras, tijolos e telhas
cerâmicas, a segunda faz uso de grandes planos de vidro e formas geométricas. A opacidade e reclusão da casinha se contrapõem
à transparência da segunda casa. Há uma leveza nesta nova casa que atribui uma
maior elegância ao conjunto, bem como uma maior pureza no volume. O desenho invertido das águas do telhado
contribui para a expressão formal da construção.
A continuidade visual
é um aspecto importante no projeto. Há uma continuidade entre o ambiente interno
e externo. Além da continuidade visual
pelas grandes esquadrias de vidro, há também uma continuação do piso graças à
rampa de acesso.
FAUSP(1961-1969)
Foto: Jos
Moscardi Fonte: http://www.vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/faculdade-de-arquitetura-e-urbanismo-da-usp
A Faculdade de
Arquitetura da USP é conhecida como um dos projetos mais importantes de sua
carreira, considerada a mais bem sucedida experiência de conjugação entre
interação espacial e social. Nesta construção, Artigas conseguiu reunir
arquitetura, pensamento pedagógico e ideologia social, gerando uma composição em
perfeita sintonia. A tese central do
projeto gira entorno da concepção do espaço como promotor das relações
humanas. Esse conceito contribui para a
concepção da arquitetura em seu papel primordial de abrigo.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ2jU-hTdUK3VEd873ej_2pnbqTnOdlGH9UC1sSRvvI8StwgFVZ16dCAiFrDz2Q6tPechTYhRB6olgK4h-xNrN7V9sz_YIf7L6yoWWyhyphenhyphendhdgBhOMDXKP7hEDII1MYxNEJkjOcDO3KnwR7/s640/hires_Fauusp-Nelson-Kon-_3_.jpg)
Foto: Nelson
Kon Fonte: http://www.vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/faculdade-de-arquitetura-e-urbanismo-da-usp
Trata-se de um volume de forma pura, fechado para o
exterior nos pavimentos superiores mas que proporciona uma continuidade com a
calçada no nível do térreo. Suas grandes
fachadas de concreto aparente revelam o seu processo construtivo pela marca das
tábuas utilizadas como fôrma. A natureza hermética do volume visto do exterior contrasta
com a amplitude de seu interior. Ao adentrar o edifício, vislumbramos um
espaço que se abre em todas as direções, seguindo pelas rampas que atravessam o
edifício.
Embora este seja um edifício coberto, a faculdade não deixa
de ser um espaço público. Ela pertence a cidade e essa noção é enfatizada em
sua espacialidade. Não há uma porta
principal ou um único acesso propriamente definido. É um espaço que se abre para vários lados e
qualquer um pode entrar. A ideia é que o
movimento dos usuários caracterizasse o espaço por completo.
O Pavimento Térreo
possui a maior área. Nele se desenvolve uma espécie de praça central interna
que recebe luz diretamente da abertura zenital na cobertura. Ou seja, a cidade é trazida para dentro da
construção. Um espaço agregador, que
propicia o encontro, a convivência e a solidariedade. Ele já foi inclusive palco de manifestações
políticas, como vemos na foto acima.
Foto: Nelson
Kon Fonte: http://www.vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/faculdade-de-arquitetura-e-urbanismo-da-usp
Os pilares
externos possuem um desenho distinto onde uma forma plana e triangular
intercepta um volume piramidal tridimensional que se eleva do solo, como se a
fundação estivesse ascendendo. Esta
solução faz uma alusão às forças da natureza ao provocar um encontro direto e
inesperado entre forças contrastantes - a força da gravidade, que tende a puxar
os corpos para a terra, e a reação inversa.
Sua
morfologia bruta e pesada faz da FAUSP uma obra enraizada, próxima da terra e
das pessoas, mas ao mesmo tempo transcendente, através da iluminação zenital e da
hegemonia grandes dos vãos, ressaltando um pensamento utópico perante a
situação do mundo.
Conclusão
A
trajetória de Artigas apresenta saltos bruscos entre estilos. Apesar disso, certos
princípios tais como a honestidade do material, a fluidez do espaço e a
franqueza funcional são mantidos através da sua obra, o que revela um gradual
amadurecimento. Estas premissas revelam a sua ideologia política, algo que influenciou diretamente a escolha dos arquitetos cujas obras
nortearam a sua produção, passando do organicismo de F.L. Wright, pelo racionalismo
de Le Corbusier, e eventualmente chegando ao patriotismo visando obras nacionais como as de
Niemeyer e Reidy.
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