Neste projeto, o arquiteto francês Dominique Perrault inverteu a tipologia tradicional da biblioteca. Ele expôs o acervo ao sol e colocou as salas de leitura protegidas no interior do edifício. No seio desse conjunto, construiu uma gigantesca floresta artificial à qual os leitores não tem acesso, a não ser visualmente. O acesso à biblioteca é feito através de uma grande praça elevada. Para chegar até ela, subimos uma imponente escadaria para então descermos novamente uma rampa que nos leva à entrada. Essa travessia obrigatória garante movimento ao espaço público, embora não seja o suficiente para trazer vida ao lugar. Devido à sua escala monumental, a praça parece estar sempre vazia. Quando me recordo deste espaço, o resultado me parece interessante, mas sempre que estou lá...não sei..me causa um estranhamento.
A escadaria está voltada para o Rio Sena. Supostamente, além de passagem ela deveria ser como um grande ambiente contemplativo para se avistar a paisagem parisiense. Isso, infelizmente, não acontece muito. Sua escala é tão intimidadora e o vento que bate ali é tão forte que não encontramos muitas pessoas desfrutando de nenhum destes espaços públicos fabricados.
A circulação interna é toda organizada em torno da floresta. Por isso, para se fazer qualquer coisa, é preciso percorrer grandes distâncias. Algo que chega a ser meio inconveniente, ainda mais pra quem precisa ir lá com freqüência para as suas pesquisas. Todo o processo de pedir um livro do acervo, por exemplo, se torna mais demorado. Você chega a esperar uma hora para que ele saia da torre e chegue até a sua sala.
Mas o projeto tem os seus méritos. Os detalhes são muito bonitos. Os encontros e sobreposições dos materiais são muito bem feitos – as chapas metálicas, com as ripas de madeira e a estrutura em concreto.
E eu ainda desfrutei de uma grande vantagem. Tive a oportunidade de descer ao “rez-de-chaussé” - o térreo do edifício - onde se encontram as salas para pesquisa avançada. Fiz uma entrevista com os bibliotecários e pude acessá-lo. É magnífico! Para mim, esse é o ponto áureo do projeto. A altura é majestosa. Você se sente entrando num antro do saber. As entradas de luz zenitais nos dão uma impressão de ascender rumo a um conhecimento superior. É uma pena esse segmento ser restrito à maior parte dos visitantes. Por outro lado, talvez seja isso que o dê esse gostinho tão especial. Um segredo magnífico compartilhado somente pelos pesquisadores.
Acho que esse projeto está longe de ser perfeito. Tampouco considero essa a biblioteca mais interessante que já vi. Compartilho algumas das críticas e alguns dos elogios ao projeto. Particularmente, ainda não decidi se gosto ou não dele. Mas, sem dúvida, acho que o projeto que levanta questões interessantes. Gosto como o grande 'objeto' do projeto é o vazio entre as torres. Certamente há falhas no funcionamento, mas também, se não questionarmos as regras, nunca fugimos do óbvio.
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