Uma das visitas mais esperadas nesta minha ida a
Estocolmo: a Biblioteca de Asplund. Lembro-me de estudar este projeto no
quarto período da faculdade - o semestre em que tivemos que projetar uma
biblioteca. Busquei inspiração neste projeto pois fascinava-me a ideia de ter o acervo de
livros todo exposto aos visitantes, algo que nem sempre acontece nas
bibliotecas. Aqui, o visitante é completamente rodeado pelos livros, de modo
semelhante ao que acontece no Real Gabinete de Leitura Portuguesa, no Rio de
Janeiro.
Real Gabinete de Leitura Portuguesa, no Rio de Janeiro. Foto: www.blogsemdestino.com |
Ao avistar o objeto na paisagem, a primeira característica que sobressai é o seu tom alaranjado. A sobriedade de sua composição geométrica, suas formas puras e sua proporção são contrastadas pelo laranja vibrante que reveste todo o objeto. Sua predominância na silhueta da cidade é salientada pela sua escala e pelo fato do objeto estar elevado sobre um grande patamar. O acesso à biblioteca é realizado através de uma grande rampa que emoldura o percurso de entrada.
Inscrição do nome do arquiteto em sua obra edificada – algo que veio tornar-se obrigatório recentemente no Rio de janeiro através do Decreto Nº 38314 de 20 de Fevereiro de 2014. |
O pórtico e as fachadas do edifício trazem
influências egípcias no desenho dos seus ornamentos. Tais elementos atribuem dramaticidade
e textura a uma fachada de linhas retas que, sem algum tratamento que a
humanize, corre o risco de ser monótona e desinteressante.
O tom alaranjado é preservado no interior. O
tom da madeira do mobiliário e o marrom da paginação de piso puxam para a cor
laranja, estabelecendo uma coerência com o tratamento de fachada. É
interessante perceber também que a paginação de piso no centro da rotunda
replica o desenho da planta geral do edifício: círculos inscritos num quadrado
representam a rotunda e o embasamento. Em outras palavras, o mesmo conceito prevalece
através das diferentes escalas do edifício, seja no desenho da fachada, na implantação
do edifício ou no detalhe do guarda corpo.
O livro é o grande protagonista do espaço. Ele assume o
primeiro plano, dando vida ao ambiente. De fato, o espaço se adapta em função do
mesmo. Ao mesmo tempo em que as estantes organizadas 360° a nossa volta nos
apequenam, quando nos aproximamos delas, elas adquirem a proporção do corpo
humano. A escala majestosa, amplificada pela planta circular, se adequam ao nosso tamanho através das passarelas, de suas escadas e corredores. Estes caminhos nos levam às estantes onde todos
os livros estão ao nosso alcance - não é necessário subir numa escada ou em um
banco para alcançar o volume desejado.
Aos meus olhos, a grande beleza desse projeto jaz exatamente nessa
relação que aqui conseguimos ter com os livros. Desfrutamos de uma completa
liberdade para andar entre as estantes, folhear os livros, sentar no chão... Achei que fossem chamar a minha atenção por estar fotografando dentro da biblioteca mas isso em momento algum aconteceu. Eventualmente percebi que, contanto que você não roube livros
ou incomode os demais, você está livre para desfrutar do espaço. Enquanto inúmeras outras bibliotecas possuem atmosferas austeras, controladas e labirínticas, a sensação que impera aqui é de leveza. Você se sente tranquilo para demorar o tempo que for e desfrutar do espaço. Sem dúvida, o desenho agregador de Asplund contribuiu para esta ocupação democrática do espaço.