Mesa 7 | A mesa com Michael Pollan
O Jornalista americano Michael Pollan Fonte: paraty.com.br/flip |
Michael Pollan é um jornalista que nos últimos anos vem
realizando um estudo sobre a saúde, alimentação e a
indústria alimentícia nos Estados Unidos.
Seus livros “O Dilema do Omnívoro” e “Cozinhar”, que acaba de ser
lançado em português no Brasil, estiveram na lista dos livros mais vendidos nos
EUA segundo o The New York Times.
Em um primeiro momento, ele se perguntou: “de onde vem a
comida?” Nós perdemos o vínculo com a origem do processo e desconhecemos o
desenvolvimento da cadeia alimentar. Essa sua curiosidade o levou ao início de
tudo, conhecendo as fazendas e plantações.
Ele nos contou sobre as paisagens moldadas pela indústria alimentícia e
de como o interior dos EUA se assemelha a uma grande fabrica. As paisagens rurais estão sendo moldadas de
acordo com a lógica fabril, dividindo os solos e as plantações em setores que
não conversam.
Para Pollan, o ato de cozinhar a própria comida é de
extrema importância. Esse ato nos
aproxima da natureza, ajuda-nos a conhecer melhor os seus frutos, além de nos
dar um maior controle sobre a nossa saúde e bem-estar. Isso sem contar que
grande parte da socialização e da educação cívica ocorre em torno da mesa.
Para ele, cozinhar chega a ser um ato político, pois assim as pessoas
retomam o poder sobre a sua dieta, sobre o preparo e sobre o que elas vão
comer. Há anos a indústria vem
preparando a nossa comida - seja nos fast foods, nas comidas semi prontas ou
nos congelados. O que ele chama de ‘comida
processada’ ou ‘embalada’ é muito comum e recorrente.
Seus livros propõem uma nova maneira de pensar as nossas
refeições, não a partir de calorias, vitaminas e moléculas mas a partir da
comida em si. Para mais informações
sobre a sua pesquisa, vejam aqui uma excelente reportagem sobre ele na Folha de
São Paulo:
http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2014/07/1490666-voltar-a-cozinha-e-um-ato-politico-diz-jornalista-michael-pollan-atracao-da-flip.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2014/07/1490666-voltar-a-cozinha-e-um-ato-politico-diz-jornalista-michael-pollan-atracao-da-flip.shtml
Mesa 13 – A verdadeira história do Paraíso, com Etgar Keret e Juan Violloro.
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Os autores Etgar Keret e Juan Villoro Fonte: oglobo.globo.com |
O nome dessa mesa vem de um texto do
Millôr Fernandes, autor homenageado nesta edição da FLIP, um texto que foi
censurado e resultou na sua saída na época da revista "O Cruzeiro". A mesa trouxe os autores Etgar Keret, de Israel, e o mexicano Juan Villoro. Na conversa, uma visão sobre o paraíso em
contraste ao horror da guerra - os paraísos que decepcionam. Face às questões
complicadas do México e de Israel, qual o papel da literatura nestes lugares? Os
autores consideram que a literatura mantém o humor nesse momento de tristeza. Ela
traz também um sentido e uma reflexão em contextos de violência e falta de
esperança.
No livro de Juan Villoro “Arrecife” ele explora os
fascínios dos estrangeiros pelo turismo exótico e por tudo que os aproxima do
perigo. Menciona as visitas turísticas à
fronteira do México com os EUA – um lugar de muito perigo que exerce um
fascínio sobre as pessoas. Já o Israelense Edgar Keret diz que o humor da
literatura serve como uma forma de protesto e é uma maneira de manter a sua
dignidade numa realidade de violência. Para ele, a literatura é o único lugar
onde tudo é possível – não há regras. Essa
atitude se torna clara em seus contos surrealistas de “De repente uma batida na
porta”, que conta com situações absurdas que lembram a ironia de Woody Allen e
o aprisionamento de Kafka.
Mesa 17 – Ouvir Estrelas com Marcelo Gleiser e Paulo Varela.
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Marcelo Gleiser de pé e Paulo Varela a direita Fonte: revistadacultura.com.br |
Essa mesa leva o seu nome de um soneto de Olavo Bilac:
Ouvir Estrelas
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Olavo Bilac (Poesias, Via-Láctea, 1888)
A conversa sobre astronomia contou com a presença de Marcelo
Gleiser, astrônomo e professor em Dartmouth nos EUA, e do geógrafo Paulo
Varela. Paulo discursou sobre a atual situação
da astronomia no Brasil enquanto Gleiser elaborou sobre algumas das mais
recentes descobertas no ramo da física quântica.
A mesa contou com reflexões existencialistas sobre a
condição e o papel do ser humano no universo e sobre o nosso conhecimento sobre
o mesmo. Em seu novo livro, “A ilha do conhecimento”, Marcelo Gleiser compara o
nosso conhecimento a uma ilha. Uma ilha que ganha terra e cresce a medida que
adquirimos novos saberes porém está sempre cercada de um oceano do
desconhecido. Novos instrumentos tais
como o microscópio possibilitam novas descobertas mas jamais conseguiremos
cobrir todo o oceano de desconhecimento.
Nossa visão da realidade será sempre míope – com novas descobertas,
surgem novas perguntas. Utilizando a metáfora de Platão, Gleiser diz que
vivemos perpetuamente numa caverna do conhecimento.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de
vida em outros planetas, Gleiser ressalta que é preciso discernir ‘que tipo de
vida’ estamos falando. Vida simples certamente existe (micro organismos, etc.) mas a vida complexa, tal como a do ser humano, é algo
extremamente raro. Além de raro, se de fato existir outra forma de vida inteligente, até mesmo dentro da nossa galáxia, as
distâncias que nos separam são tão gigantescas que seriam necessários milhares
de anos até que ocorresse um possível encontro. Em outras palavras, o ser humano pode não
ser a única espécie inteligente existente, mas nós estamos sozinhos e isolados dentro do nosso
sistema solar. Nós, seres humanos, somos
raridades e isso nos dá uma imensa responsabilidade de preservação de vida e de
estudo sobre o universo.
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Com isso, encerro meu relato sobre a FLIP 2014. Um evento
com mesas interessantes que, apesar de não serem muito longas, chegam a se
aprofundar nos seus temas e nos trazem visões diferentes sobre
variados assuntos. Já estou ansiosa pela edição de 2015.
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