Inaugurado ao grande público em 2006, o centro cultural
Inhotim vem sendo destacado entre os principais museus a serem visitados no
mundo. Agregando um importante acervo de arte moderna e contemporânea, o museu conta
com obras de artistas como Adriana Varejão, Yayoi Kusama, Olafur Eliasson,
Miguel Rio Branco, Hélio Oiticica, Lygia Clark e muitos outros.
Situado em Brumadinho, um município de 35 mil habitantes, o
museu Inhotim fica a aproximadamente 50 km da capital do estado de
Minas Gerais, Belo Horizonte. A
localização afastada já requer uma viagem até lá, um ato de peregrinação em
busca da arte. A viagem, portanto, é um
período de transição, de preparação. A sensação ao chegar lá é de que se adentra um
lugar realmente especial, quase sagrado, e longamente aguardado.
A beleza de Inhotim jaz sobre três instâncias – paisagística,
artística e arquitetônica. O local em si é belíssimo – os diferentes percursos
proporcionam belos e aconchegantes pontos de descanso, meditação e contemplação
da paisagem. Os caminhos são pontuados por grandes obras de arte e por pequenas
construções – pavilhões que reúnem obras de artistas convidados. Estas edificações tiram proveito de sua
pequena escala e liberdade criativa para oferecer soluções inovadoras de design
e arquitetura.
Paisagismo
Não passa despercebida a beleza do mobiliário assinado por
Hugo França. São 98 exemplares
espalhados pelo jardim. O designer
passou 15 anos vivendo em Trancoso, na Bahia, onde descobriu o
pequi-vinagreiro, uma árvore comum na Mata Atlântica baiana mas pouco utilizada
na marcenaria devido às suas irregularidades. A partir de raízes desenterradas,
troncos ocos e galhos dessas árvores, França desenvolveu um novo tipo de mobiliário,
extremamente único e contundente.
Arte
Yayoi Kusama, a artista
japonesa já foi assunto aqui no blog no texto Série de Instalações de Arte (1) | Yayoi Kusama A obra intitulada “O Jardim de Narcisco”(2009) traz
esferas metálicas, espelhos convexos que ocasionam o encontro do indivíduo consigo
mesmo. A obra evoca o mito de Narciso,
que se encanta com a própria imagem projetada na água e, ao tentar resgatá-la, afoga-se no lago. Apesar do símbolo principal da obra ser a esfera refletora, a
obra é uma conjunção deste elemento com o entorno, cuja composição muito se
assemelha à dos jardins japoneses. A organização e aparência das bolas variam
de acordo com o vento, com a luz e demais fatores externos, o que aumenta a
percepção de influência da natureza. A
obra portanto proporciona um momento de dupla contemplação: um momento de
interiorização e um de consciência do que está ao redor.
Hélio Oiticica, Magic Square #5 (1977) A
tradução do termo em inglês ”Square” traz dois significados diferentes – a
praça e a forma do quadrado. Na obra,
Oiticica se utiliza de ambos os conceitos.
A obra faz parte de uma série de 6 obras intituladas “Penetráveis”,
todas construídas após a morte do artista.
Nessa obra, o seu trabalho consistiu na produção de desenhos técnicos,
diagramas e amostras que explicavam com detalhes a construção dos módulos. O resultado é um espaço de convívio e
permanência, onde a cor se manifesta de forma retumbante e eloquente. Um estudo sobre a ocupação do espaço, a
influência da cor numa escala ambiental e a sua relação com o entorno. Essa obra é coerente com o princípio que Oiticica
defendia em suas obras, aquele de aproximar a arte e a vida, algo que também
encontramos na galeria ‘Cosmococas’. Lá, através de uma série de ambientes, o
público tem a oportunidade de interagir com a obra – seja mergulhando numa
piscina, deitando na rede ou simplesmente lixando a unha.
Cildo Meirelles - Inmensa(1982-2002)
Escultura em aço cortén. A obra explora
diferentes escalas de um mesmo elemento, explorando relações
espaciais alternadas da escultura com o contexto e dos componentes entre si. Formas geométricas cujo arranjo faz referência
a conceitos externos à obra. O próprio título já indica isso visto que o termo
“in mensa” significa na/sobre a mesa em latim. É interessante observar que a
obra também propõe uma inversão de lógica, visto que os elementos menores
sustentam os maiores. Esse gesto pode
ser interpretado como uma metáfora de questões maiores como as estruturas políticas,
econômicas e da própria sociedade.
Amílcar de Castro - Gigante
Dobrada(2001) Escultura em Aço Cortén traz uma figura geométrica que se fecha em si mesma. Nesse movimento, uma única placa gera a
distinta percepção entre o dentro e o fora, entre o interior e exterior. Um elemento
bidimensional rompe as suas barreiras físicas e estabelece propriedades de
espacialidade.
Olafur Eliasson-
Viewing Machine (2001) O artista dinamarquês Olafur Eliasson é conhecido pelo
seu trabalho de pesquisa de luz, forma, cor e reflexos. Na sua obra ‘Viewing
Machine’ em Inhotim, o artista criou um caleidoscópio com o qual podemos ver a
vista. Através deste instrumento, vemos a paisagem de
brumadinho com outros olhos, apreciando novos ângulos e distorções.
Chris Burden – Beam Drop (2008)
Obra 'site specific'(feita para o local) na qual gigantescas vigas de aço foram lançadas em um buraco preenchido por concreto no estado fresco. Após a performance e o período de cura, as vigas permaneceram como um grande escultura.
O video a seguir mostra como foi esse processo:
Troca-Troca - Jarbas
Lopes (2002)
3 fuscas coloridos, com a lataria permutada entre si,
percorreram em 2002 um trajeto saindo do Rio de Janeiro indo até Curitiba. No caminho,
foram juntando histórias, experiências, memórias. Em 2007, os fuscas voltaram a
pegar a estrada – desta vez de Belo Horizonte a Brumadinho. Além da
descontração e coletividade pela troca das peças dos automóveis entre si, o
fato dos carrinhos estarem estacionados porém com a permanente possibilidade de
sair para a estrada novamente, dão a obra um caráter transitório, inconstante,
inquieto, efêmero e lúdico.
Arquitetura
Galeria True Rouge –
Tunga
O mineiro Paulo Orsini assina o projeto da Galeria True Rouge, o primeiro pavilhão a ser construído em Inhotim. O Pavilhão abriga a belíssima obra "True Rouge"(1997), de Tunga. O projeto explora as premissas do movimento moderno; a 'promenade architecturale' pela passarela sinuosa de acesso; o pilotis da varanda, gerando um abrigo e ambiente de estar do lado de fora da galeria; o espelho d'água que proporciona um afastamento do objeto para que ele possa ser avistado a distância; e a fachada livre, que permite uma visualização da obra de Tunga a partir do exterior graças à transparência do vidro.
Pavilhão Adriana
Varejão
Projetado por Rodrigo Cerviño Lopez, o pavilhão contendo as obras
da artista Adriana Varejão tornou-se um dos grandes símbolos de Inhotim. O objeto morde o terreno em aclive,
enterrando-se parcialmente enquanto outra parte permanece suspensa, em balanço. É através deste vazio sob o edifício que é realizado o acesso à galeria. A circulação interior não é feita por corredores - ela é direcionada pelas aberturas e continuações dos próprios espaços.O percurso livre oferece ao visitante uma multiplicidade de pontos de
vista sobre o prédio e as obras em exposição. Um passeio que se inicia no espaço externo, pelo caminho de acesso sobre o espelho d'água, passando por dentro dos espaços expositivos e terminando enfim num terraço na cobertura.
O centro cultural é bastante inovador em termos da
renovação do seu acervo. Há obras “site
specific” que são permanentes, porém muitas das
galerias renovam o seu acervo e, de tempos em tempos, um novo pavilhão ou obra
de arte são construídos no local.
Inhotim proporciona simultaneamente ao visitante um
deslumbramento intelectual e um momento de descanso. Ao retornar a civilização a à correria da
rotina, voltamos de lá leves, com uma paz de espírito. Ao sair de Inhotim, a vontade é de voltar ainda muitas vezes ao museu.
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