Reconhecida atualmente como um dos principais centros financeiros de
São Paulo, a Avenida Paulista foi originalmente concebida como uma região
residencial para a alta sociedade Paulistana. Inaugurada no final do século
XIX, no dia 8 de dezembro de 1891, a Avenida emergiu como resultado de uma nova
expansão urbana pelos terrenos de antigas fazendas.
Avenida Paulista em 1891 |
Avenida Paulista - Bairro Residencial em 1901 |
Foi a primeira via asfaltada da metrópole (1909). Separada em três
faixas, a Avenida possuía originalmente uma via para bondes, sendo que o mesmo
só foi instalado em 1900. Havia também uma faixa para carruagens e uma para
cavaleiros.
Sua concepção urbanística foi bastante inovadora para a época. A
implantação dos palacetes rompia com os tecidos urbanos tradicionais.
Suas fachadas podiam ser afastadas do alinhamento do terreno, o que atribuía
uma maior amplitude à Avenida.
Este uso predominantemente residencial se manteve até meados da década
de 50, quando as casas começaram a dar lugar a grandes edifícios comerciais. Um
marco desse momento de transformação foi o Conjunto Nacional de 1954, projeto
do arquiteto David Libeskind.
O conjunto nacional foi o primeiro edifício multiuso na avenida paulista. Composto por duas lâminas – a lâmina vertical, de uso residencial e a lâmina horizontal, no caso o embasamento que concilia funções comerciais como lojas, escritórios, cinema, academia, centro cultural e um terraço ajardinado- o conjunto ocupa a quadra em sua totalidade. No entanto, os seus múltiplos acessos permitem uma completa permeabilidade do objeto e uma continuidade do percurso urbano. O caráter público do térreo permite que a cidade adentre, penetre e atravesse a construção. Seu interior adquire, portanto, o caráter de praça pública.
A Implantação da torre é afastada da calçada, permitindo uma
visualização mais plena do objeto, além de gerar um vazio entre a lâmina e a avenida. Enquanto isso,
seu bloco de base cobre inteiramente o térreo.
A horizontalidade do embasamento contrapõe a verticalidade da lâmina.
Continuidade com a calçada - Térreo do Conjunto Nacional |
Na avenida, também encontramos importantes ícones
culturais, característicos da paisagem paulistana. Esse é o caso do edifício da FIESP,concebido
pelo escritório Rino Levi Arquitetos Associados. Vencedor de um concurso realizado no final
dos anos 60, construído ao longo dos
anos 70 e inaugurado em 1979, o edifício permanece um marco na paisagem devido
à sua forma inusitada.
Mas o grande de respiro da avenida dá-se no segmento entre a Rua Peixoto
Gomide e a Alameda Casa Branca onde avistamos o Museu de Arte de São Paulo, o
MASP, projeto da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, em contraposição com
o Parque Trianon, inaugurado em 1892 sob o nome Parque Villon. O museu - uma caixa flutuante, sustentada por
uma vigorosa estrutura de concreto, da qual apenas 4 pontos de apoio tocam o
chão. O térreo é livre de construções e barreiras físicas, um espaço que foi
cedido pelo projeto à cidade. Há ainda um segundo segmento do museu no subsolo.
O vão livre criado aqui permite inúmeras utilizações, desde feiras a exposições,
encontros, aulas e até mesmo manifestações. Recentes discussões sobre o
fechamento deste vão tem suscitado indignação entre os seus frequentadores e
apreciadores. Além de artigos, vídeos manifestos na internet e debates questionando
essa atitude do museu, no sábado, dia 07 de dezembro, aconteceu lá um movimento
‘abrace o vão livre do MASP.’
Essa discussão suscita uma série de questões. A cidade é feita para
quem? Sendo esse um local amplamente ocupado pelas pessoas, o que significa o
seu fechamento para o público? Não seria esse um sinal claro de como estamos
privatizando e individualizando o espaço público, criando espaços que excluem
no lugar de incluir? Essa atitude não vai contra o movimento de pensar as
nossas cidades de forma mais democrática? Há muito ainda a se fazer em termos
de planejamento urbano e sobre pensar a cidade. A batalha pela permanência do
vão livre enaltece a importância dessa discussão.
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