13 de junho de 2014

A ESCALA HUMANA DE MELBOURNE | AUSTRALIA



Meu interesse em conhecer Melbourne surgiu a partir do documentário A Escala Humana (“The Human Scale”) que acompanha os projetos urbanísticos do arquiteto dinamarquês Jan Gehl. Ele defende que os centros urbanos devem voltar a ser projetados para as pessoas uma vez que, nos últimos 50 anos, os mesmos tem sido desenhados em torno do automóvel.  Um dos estudos apresentados que mais chamou a minha atenção foi a sua intervenção sobre o centro de Melbourne, na Australia. 


Trailer do documentario "The Human Scale" – A Escala Humana

Fundada em 1835, Melbourne é a segunda maior cidade Australiana.  Seu planejamento urbanístico seguiu o mesmo modelo de Sydney, que por sua vez é profundamente influenciado por Londres e Los Angeles.  Trata-se de um crescimento urbano essencialmente horizontal, desdobrando-se em subúrbios cada vez mais afastados do centro.  A vida no subúrbio tornou-se referência de um estilo de vida saudável, confortável e seguro porém, nos últimos anos, esta tendência vem se mostrando insustentável.  Essas áreas afastadas do centro são pouco atendidas pela rede de transporte público e com isso muitos acabam recorrendo ao automóvel individual – o que além de aumentar o trânsito drasticamente também eleva os níveis de poluição. No caso de Melbourne, esse êxodo para os subúrbios também acarretou em um esvaziamento do centro; a região tornava-se deserta depois do horário comercial.  O governo então contratou o escritório de Gehl com o intuito de “trazer as pessoas de volta ao centro”.

Gehl argumenta que para isso, o Centro precisaria tornar-se mais convidativo às pessoas – Os seus espaços deveriam ser concebidos para os cidadãos.



Após um período de observação e estudo sobre o local, a equipe do ‘Gehl Architects’ chegou a uma interessante conclusão. Eles detectaram a existência becos subutilizados entre as edificações. Esses becos ficavam entre as fachadas dos fundos ou laterais dos edifícios.  Eram fachadas com pouco ou nenhum tratamento, por onde saiam aparelhos de ar condicionados e demais dutos de instalações. O nível térreo era ocupado por ‘containers’ de lixo.  Apesar de serem espaços escuros e mal ventilados, esses becos possuíam a dimensão ideal para a circulação de pessoas. Foi criada então uma rede de percursos por todo o bairro que atravessa ruas e quadras, ligando os becos entre si.  Com a revitalização desses ambientes, os pavimentos térreos dos edifícios circundantes foram gradualmente se transformando para adequar-se a esse novo fluxo de pessoas pelo local.  Lojas, restaurantes e demais serviços começaram a margear esses caminhos, trazendo vida ao passeio.




Esse projeto, intitulado “Places for People” foi introduzido na cidade em 1994 e voltou a ser atualizado dez anos depois.  Eu visitei a cidade em Janeiro de 2014, 20 anos após a intervenção original.  O que pude verificar é uma região completamente assimilada pela cidade e por sua população. 

As vias seguem paralelamente umas às outras, atravessam quadras inteiras e por vezes se bifurcam em galerias diferentes.  Suas transições são tão integradas que por vezes saímos de um ambiente interno para um externo sem perceber.  Os estabelecimentos comerciais são pequenos e voltados para a rua, o que faz com que grande parte do movimento de compra, consumo e exposição aconteça na própria rua.  Além de comércio, encontramos diversas manifestações artísticas como apresentação de músicos, painéis de graffiti e projeções de mídia em empenas cegas após o anoitecer.


Cafés e Restaurantes ao ar livre
Pórtico de entrada - transição entre o dentro e fora


Essa variedade de ambientes e atividades que verificamos aqui potencializa o encontro e o fluxo de pessoas.  A rua adquire um caráter dinâmico e cheio de vida.

Melbourne é um exemplo de como uma cidade pode ser readaptada para melhor se adequar à escala das pessoas. Encontramos aqui belos edifícios mas, ao meu ver, a grande beleza de Melbourne está na altura dos olhos – no nível térreo. Na vida que se faz presente nos seus restaurantes descolados, nas vitrines das lojas, pelas intervenções artísticas e principalmente pelas pessoas. Enquanto em Sydney tudo é espetacular e deslumbrante, o charme discreto de Melbourne está no percorrer de suas ruas.



A fachada desse edifício a direita era originalmente toda fechada no nível térreo  As vitrines foram abertas para a via lateral após a intervenção urbanística.  Essa transformação foi um processo gradual que contou com a colaboração da comunidade local.
Mobiliário urbano convida as pessoas para o descanso. Detalhe para a linha do bonde elétrico no canto direito da foto - há uma ampla integração entre o fluxo das pessoas e o transporte público.  Todo deslocamento acontece no mesmo nível.


O Centro tornou-se um lugar de passeio e turismo nos fins de semana
Sistema de Bicicletas Coletivas - Melbourne adota a escala das pessoas

7 de junho de 2014

SÉRIE INSTALAÇÕES DE ARTE (3)| Esculturas Monumentais na Praça Paris


Foi inaugurada no dia 24 de Maio a “Mostra Rio de Esculturas Monumentais” na Praça Paris, no Rio de Janeiro.  Em exposição, encontram-se obras de 17 artistas brasileiros.  Além da beleza do desenho paisagístico da praça, fortemente influenciado pela escola clássica francesa, me encanta a vista do entorno - os bairros da Glória e do Centro. Nesse contexto, as esculturas dialogam simultaneamente com duas escalas diferentes – aquela do solo da praça e das grandes construções à distância. A seguir, fotografias de algumas das esculturas.


A mostra permanece até o dia 20 de Julho e eu particularmente recomendo uma visita ao entardecer, para ver a transição das obras iluminadas pela luz do dia e pela iluminação artificial.



Jorge dos Anjos(Minas Gerais) – Composição Geométrica



Claudia Dowek (Rio de Janeiro) – Amanacy (título significa "Mãe da chuva" em Tupi Guarani)

José Petrônio (Alagoas) – Homens Grandes do Sertão

Claudio Aun(Rio de Janeiro) - Entrelaçamento quântico
 

Marcelo Caldas(rio de Janeiro) – Anforas
 

Gabriel Fonseca (Rio de Janeiro) – Cubo
 




Carlos Muniz (Minas Gerais) – sem título