29 de outubro de 2015

Exposição Universal 2015 | Milão



A Itália recebeu este ano a Exposição Universal, um evento mundial que reúne diversos países. O tema desta edição foi “Feeding the Planet: Energy for Life”, e contou com mais de 140 participantes. Além de apresentar uma exposição dentro do tema, os países são convidados a construírem pavilhões próprios.  Dado o caráter efêmero da maior parte das construções, o que encontramos são projetos ousados e inovadores.  Mesmo que você não visite todas as exposições, só de ver a arquitetura dos pavilhões já é uma experiência fascinante.

Detalhe Pavilhão Japonês.

Foto Pavilhão Estônia. Projeto: Kadarik Tüür Arhitektid.



Foto Pavilhão Chile. Projeto de Cristián Undurraga.



Inaugurada no dia 1 de Maio, a mostra segue até 31 de Outubro. Nesta edição eram esperados mais de 20 milhões de visitantes, podendo chegar a um máximo de 250 mil por dia. Considerando esses números, não é de se espantar a imensidão das filas.  Tentei visitar o pavilhão do Japão, um dos mais cobiçados do evento.  Cheguei lá às 9 da manhã e, ao alcançar o pavilhão japonês, o tempo de duração da fila de espera já era mais de 7 horas(!).  Como só estive um dia no evento, não quis perder tempo em filas longas demais e organizei o meu percurso para conseguir ver o maior número de pavilhões interessantes possível.  Apresento aqui um resumo de alguns que visitei:

Pavilhão da Russia








Nossa primeira parada. O pavilhão russo, projetado pelo escritório SPEECH, apresentava um projeto imponente, cuja forma mais se assemelhava a de um barco.  Por baixo de uma gigantesca estrutura em balanço foi aplicado um material metálico altamente reflexivo que permitia às pessoas se verem espelhadas no teto antes de entrar na exposição.  Nas laterais, uma composição de ripas de madeira.

Pavilhão Marrocos









O pavilhão marroquino foi projetado pelo OUALALOU+CHOI. O projeto praticamente nos transfere para a ambiência dos desertos do Marrocos. O projeto tira partido da cor e textura terrosa do adobe em sua composição.  Há rasgos que permitem a entrada de luz pontualmente, dando um toque especial para o espaço interno.  

Pavilhão Estados Unidos


Fonte: http://www.buildingsexpo.com/


O pavilhão dos Estados Unidos é um projeto de James Biber.  O acesso e os espaços internos foram concebidos considerando um grande número de visitantes.  Com isso, não pegamos fila alguma e conseguimos entrar direto. Além dos espaços amplos, o projeto do pavilhão apresentava uma imensa horta vertical na sua fachada lateral.  As hortas foram plantadas sobre painéis que se movimentavam, abrindo e fechando repetidamente. Um espetáculo.

Hortas verticais na lateral do Pavilhão dos EUA.




No último pavimento, um grande terraço com um bar coberto por uma estrutura metálica e vidro. O vidro possuía um filme que ficava alternando de cor. 



Pavilhão França




Este foi o meu pavilhão preferido.  Por se tratar de uma estrutura temporária, os autores do projeto – o escritório Studio X-TU, em parceria com o Studio ALN Atelien Architecture e o Studio Adeline Rispal - utilizaram uma estrutura leve de madeira que pode ser facilmente montada e desmontada.  A forma do edifício faz referência a elementos orgânicos enquanto a decoração interna (utilizando elementos como pratos, panelas, etc) remete aos tradicionais mercados franceses.  A exposição complementava bem essa ambiência, falando sobre os atributos da dieta francesa (que recentemente tronou-se um patrimônio da unesco) e os avanços na agricultura do país.

Para finalizar a visita, na saída tinha uma autentica ‘boulangerie’ francesa que produzia e vendia baguettes, croissants e outras delícias típicas, trazendo o aroma do pão francês para o espaço.




Pavilhão Reino Unido





Projetado pelo artista britânico Wolfgang Buttress, o pavilhão do Reino Unido falava sobre as abelhas, trazendo descobertas feitas em pesquisas conduzidas pela universidade de Nottingham Trent. Antes de adentrar o pavilhão o visitante cruzava um jardim labiríntico cuja planta reproduz a forma hexagonal característica das colmeias.  Após essa primeira parte, adentramos uma sala que apresentava a pesquisa e em seguida subimos para entrar na grande instalação metálica que reproduz o ambiente da colmeia.  No interior, pequenas luminárias se acendem alternadamente, reproduzindo os estímulos aos quais as abelhas são submetidas. O visitante é convidado a vivenciar sensorialmente o ambiente das abelhas.

Pavilhão Brasil


Foto: Fernando Guerra. Fonte: www.archdaily.com.br




Projeto resultado de uma parceria entre os escritórios Studio Arthur Casas e o Atelier Marko Brajovic.  A estrutura metálica sustenta uma imensa rede sobre a qual os visitantes podem caminhar. O aspecto lúdico do pavilhão é um grande atrativo para os visitantes.

Histórico e edições passadas


Crystal Palace, projeto de Joseph Paxton, sediou a primeira Expo Internacional em Londres.
Fonte: http://www.pavilon-expo2015.cz/ 
A primeira edição da Exposição Universal aconteceu em 1851, em Londres. A intenção sempre foi de promover uma troca cultural e científica entre nações, além da criação artística e arquitetônica.  A intenção é deixar legados para as cidades que sediam o evento, como foi o caso da Torre Eiffel, em Paris (construído para a Expo de 1889), e o Atomium em Bruxelas (1958), entre outros.

A Expo reúne nações em uma preocupação com o futuro da humanidade, algo que se reflete nas escolhas dos temas. Trata-se de um encontro de paz onde cada país traz o que tem de melhor e há uma troca visando o bem comum.

1 de outubro de 2015

Museu de Arte Kimbell, Louis Kahn | Texas

Museu de Arte Kimbell
Foto: Xavier de Jauréguiberry Fonte: archdaily.com



Em continuidade com o post anterior sobre o Instituto Salk, trago esse mês um olhar sobre outra obra de Louis Kahn – o Museu de Arte Kimbell, uma jóia que permanece uma das principais referências quando o assunto é galerias de arte ou museus de pequeno a médio porte.

Inaugurado em 1972, o Museu de Arte Kimbell está localizado em Fort Worth, uma cidade que integra a megalópole Dallas-Fort Worth, no estado do Texas, nos Estados Unidos. Composta por 12 condados, a megalópole abrange as regiões metropolitanas dos distritos Dallas-Plano-Irving e Fort Worth-Arlington.  Durante a minha estadia, fiquei hospedada mais perto de Dallas mas, sabendo da existência da obra do Kahn há pouco mais de 40 minutos de carro, não pude deixar de tirar um dia para ir conhecer.

O museu fica no centro cultural da cidade, uma região que conta com diversos museus e centros de pesquisas.  Para ter uma ideia, do outro lado da rua do Kimbell fica o Modern Art Museum of Fort Worth, museu projetado pelo Japonês Tadao Ando que abriga um excepcional acervo de arte moderna.  Imperdível também. 

Museu de Arte Moderna, projetado por Tadao Ando, fica em frente ao Museu de Arte Kimbell.
Foto: Liao Yusheng Fonte: archdaily.com


Metodologia de Trabalho de Kahn


Durante o processo projetual, o arquiteto passava por três fases: a ideia, a ordem e o desenho.  Kahn acreditava que os edifícios possuíam uma essência própria, e que esta essência era determinante para a solução final. O primeiro momento da ideia, portanto, é quando a forma expõe a sua vontade de existir e o partido do projeto é revelado. Em seguida, estes elementos são alinhados para estabelecer uma ordem, uma linguagem definidora da composição.  O desenho vem por último, como o que vem trazer a riqueza do detalhe para o tratamento de cada ambiente através de soluções pontuais para a entrada de luz, detalhes construtivos, encontros entre materiais.

Kahn costumava dizer "amo os inícios". Para ele, esse momento era primordial:"a transição entre o silêncio e a luz".

Sobre o Museu

Composição em Abóbodas que seguem lado a lado
Foto: Xavier de Jauréguiberry Fonte: archdaily.com

O Museu de Arte Kimbell reúne cerca de 350 obras pertencentes a coleção de Kay e Velma Kimbell.  O acervo não é muito extenso, porém é composto por obras de grande importância, dentre elas pinturas e esculturas europeias, asiáticas e africanas.  O edifício de Kahn reflete essa característica do acervo em sua arquitetura – sua escala é modesta mas conta com um grande refinamento nos seus detalhes.

Os projetos de Kahn refletem uma grande preocupação com a vivência do interior.  Ele costumava dizer que devíamos falar em termos de ‘lugar’, e não de ‘espaço’, e como qualquer lugar está submetido à luz, ele deve ser pensado em função da mesma.  De fato, a luz é um dos principais elementos deste projeto.

Entrada de luz natural pelo topo e no final da abóboda

O Museu de Arte Kimbell traz fortes referências à arquitetura do império romano.  A estrutura em abóbodas faz alusão às antigas casas de pompéia.  Na composição, elas seguem lado a lado, gerando um efeito de ritmo e repetição.

As abóbodas contam com rasgos no topo, que seguem por todo o seu comprimento.  Estes rasgos permitem a entrada de luz natural e a curvatura do teto proporciona uma distribuição difusa da luz. A luz se dissipa à medida que se aproxima das extremidades do ambiente.  Este eixo de luz criado no centro das abóbodas contribui para o direcionamento do percurso da exposição.


Detalhe da entrada de luz pelo topo da abóboda e pelo arco na parede 


Para que houvesse algum tipo de controle sobre a entrada de luz natural, o arquiteto criou uma espécie de filtro, uma estrutura sob o teto permite a troca de painéis com maior ou menor grau de opacidade.  Isso permite aos curadores um controle sobre a luz em função das obras sendo expostas. 

Detalhe da estrutura sob o teto que filtra a entrada de luz


A importância da flexibilidade na organização da exposição também se faz evidente pela existência de paredes internas móveis, adaptáveis de acordo com as exposições. 

Detalhe dos painéis móveis.  Trilhos embutidos na estrutura.



Kahn falava muito sobre a monumentalidade na arquitetura, sobre a importância do ícone.  Este museu se impõe de forma monumental. Apesar de sua escala despretensiosa, sua composição se utiliza de formas imponentes e as enfatiza através da repetição. Não obstante, o respeito com as proporções do corpo do ser humano não cai no esquecimento.  Isso se torna evidente através do teto baixo, que traz intimismo para o momento de admiração das obras. Do mesmo modo, foram criados pátios internos que também oferecem um local de descanso e contemplação para os visitantes, além de ser mais uma entrada de luz natural para o interior. Não é a toa que a arquitetura de Kahn é considerada muito humana.

Hall - Espaço que articula a livraria, ambiente de espera e pátio externo (a esquerda). Pátio externo oferece ambiente de descanso, reunião e contemplação para os visitantes.

Transição entre materiais de piso marca a transição dos espaços de exposição e o exterior.  Esquadrias de vidro permitem a entrada de luz natural no interior.
Materiais aparentes.  A presença da madeira contrapõe o mármore e o concreto bruto e aquece o ambiente.  Mobiliário oferece local para repouso dos visitantes. Ao fundo, avistamos a livraria do museu, completamente integrada com o hall devido a ausência de paredes.


Eu visitei o Kimbell em dezembro de 2012.  Na época, o museu estava passando por obras de extensão.  O complexo receberia um anexo projetado por ninguém menos do que Renzo Piano.  A escolha de Piano para o projeto da expansão é bastante sensata visto que o arquiteto italiano vem se estabelecendo como referência em termos de arquitetura de museus.  Piano já assinou diversos museus em diferentes cidades americanas, muitos deles seguindo as premissas do Kimbell de pequena escala e riqueza nos detalhes.  Renzo Piano chegou a colaborar no escritório de Kahn na época em que o Kimbell estava sendo desenvolvido.  Algumas imagens do anexo, inaugurado em 2013:

Extensão do Kimbell Art Museum, projetado por Renzo Piano.  A solução de Piano respeita a escala do projeto de Kahn e faz referência ao ritmo e à curvatura das abóbodas na cobertura.
Foto: Robert Laprelle Fonte: archdaily.com


Foto: Robert Laprelle Fonte: archdaily.com