27 de maio de 2011

Palestra de Zumthor au CGP

”Why the Alpes?”
Ele inicia a sua apresentação com a seguinte consideração:  "O porque de morar nos Alpes Suiços". O que o levou a morar lá? Além da companhia de sua esposa e da família que eles formaram juntos, há também o fato de ele gostar de trabalhar lá..."o ambiente lá é ideal para a concentração". Ele mostra então imagens da sua cidadezinha natal.  Vemos a sua casa, uma foto do seu netinho indo pra escola, a sua rua e o seu ateliê com algumas maquetes na janela...tudo com um sentimento muito familiar.  Uma familiaridade que permeia os seus projetos
E entre cada obra que apresentava, Zumthor voltava às fotos do seu lar doce lar, jamais esquecendo a relação entre a sua intimidade e os seus projetos.
 House of Seven Gardens
Zumthor é conhecido por recusar projetos.  Ele nos mostrou a casa de um cliente que insistiu com ele durante 8 anos até conseguir convence-lo a fazer o projeto.
O engraçado foi que ele nos apresentou esse projeto ainda em processo de andamento, com mudanças a serem feitas....  De acordo com ele, nem o cliente tinha visto o projeto ainda...o encontro deles supostamente só seria na semana que vem.  Nunca vi isso...um arquiteto que mostrava em conferencias trabalhos incompletos ou trabalhos cujo proprio cliente desconhecia.  Mas tive a sensação que o Zumthor não é o nosso típico ‘starArchitect’...
Serpentine Pavilion, 2011
O que se torna claro ao longo do seu discurso é que Zumthor mantêm uma participação assídua em todas as fases do projeto.  Mais do que isso...ele tem total controle sobre todo o processo.  O serpentine pavilion foi uma de suas exceções. Uma das únicas vezes em q ele confiou parte do projeto dele à uma outra pessoa.  Nesse caso, o jardim - a alma do espaço que ele gera - foi um projeto a parte, entregue à outra pessoa. Para alguém que acompanha cada passo, cujo traço se faz presente em todos os momentos do projeto, deve ter sido um grande desafio confiar o coração, o essencial do seu projeto à outra pessoa.

No todo, achei Zumthor extremamente coerente com o tudo o que já tinha lido sobre ele.  Desde o seu discurso em seu livro ‘saber ver a arquitetura’, onde ele fala do espaço adotando um ponto de vista mais sensível e sensorial, sem buscar um embasamento teórico ou acadêmico para justificar suas afirmações.  Ele fala pensando nas pessoas q vivem aquele lugar e que, através de sua vivencia, irão transformá-lo.  Uma pessoa de fortes convicções e sua filosofia se materializa na sua arquitetura.

18 de maio de 2011

LOUVRE | O MUSEU DOS MUSEUS

Descobri por um amigo que o Louvre fica aberto todas as quartas e sextas até às 21h.  Tendo em mente as filas gigantescas que tem se formado durante o dia, saí do trabalho na quarta e me mandei direto pro Museu.  Fui a pé. Um trajeto de cerca de 20 minutos, saindo do meu escritório, em Strasbourg-Saint Denis, no 10ème arrondissement, até a Rue de Rivoli, no 1 ère.  No caminho, mais uma vez, deparo-me com belas surpresas; Empenas cegas de prédios existentes há mais de um século, revelando as diferentes camadas de materiais de construção; pequenos largos e pracinhas, que, de tão pequenos, nem chegam a aparecer no mapa; além de cafés, lojas e restaurantes charmosos.
É difícil visitar um museu tão denso quanto o Louvre em apenas duas horas... ainda mais depois de um dia de trabalho.  Mal conseguia me concentrar naqueles objetos de civilizações antigas.  Optei então por direcionar o meu olhar, nesta visita, apenas aos detalhes arquitetônicos e à sensação espacial. Fiquei comovida.  O projeto de I.M.Pei para o Louvre pareceu resumir pra mim a total compreensão e domínio das diferentes escalas em um mesmo projeto.  O projeto sabe explorar o significado e as implicações de cada uma delas. A começar pela a intervenção externa: a inserção da pirâmide no seio do antigo palácio.  Não pude deixar de achar poética a linguagem formal adotada nesta solução.  Uma forma piramidal, que contrasta com absolutamente todos os elementos construídos à volta; uma estrutura de aço e vidro, altamente tecnológica, mas que ao mesmo tempo faz uma alusão à um ‘métier’, à um ‘savoir faire’ milenar, criando assim uma relação direta exatamente com o tipo de conhecimento e conteúdo que este museu abriga.  Um objeto gigantesco, mas ao mesmo tempo, incrívelmente leve.  Ele respeita as proporções do conjunto, jamais sobrepondo ou ofuscando a importância do palácio, mas ao contrário, refletindo em sua superfície espelhada os seus mais belos traços de suas fachadas.
 Depois sobre os espaços internos, a continuidade visual permeia todo o percurso das exposições.  É muito interessante estudar as pinturas do século XVIII e de repente se deparar por um instante, com uma vista sobre o atrium central, repleto de esculturas da Grécia antiga.  Os ambientes são focados em temas específicos, mas se intercedem em alguns momentos.
Isso sem contar com um refinamento, um preciosismo nos detalhes.  Isso se torna evidente tanto nas entradas de luz difusa nos espaços, quanto no encontro dos materiais no piso, assim como nos detalhes do guarda-corpo. Um pensamento que abrange o todo mas que também se faz presente no micro.
Para um projeto que, na época de sua abertura ao público em 1989, foi bastante polemico, vemos que com o tempo ele foi plenamente assimilado e mais, passou a ser adorado. Hoje em dia, é difícil de imaginar o Louvre se não como ele é atualmente.  Se fossemos tirar aquela pirâmide, com os seus 666 panos de vidros, aquela gigantesca praça, que hoje parece completa, ficaria vazia.  Restaria um sentimento de que algo está faltando neste lugar.
A torre de Montparnasse, concluída em 1972, por outro lado, acho que até hoje gera uma certa revolta entre os Parisienses.








Detalhe do Guarda Corpo

Detalhe do Corrimão

16 de maio de 2011

SEM RUMO POR PARIS

O primeiro fim de semana
No meu primeiro fim de semana, peguei uma dessas bicicletas da cidade (velib’) e saí sem rumo passeando por aí.  Pra não dizer que estava completamente sem rumo, eu admito que tinha um destino final em mente; o “Beaubourg” - clássico, porém imbatível.  Agora quanto ao percurso até lá, deixei a bicicleta decidir por mim.
Estava um belo dia de sol.  Deu pra sair de bermuda e camiseta, e só um lencinho em volta do pescoço pra proteger do vento. Comprei um croissant na boulangerie da rua aqui de trás, a Saint Dominique, e saí andando da minha casa até o Champs de Mars...cerca de uns 5 minutos a pé.  Passei por baixo da torre Eiffel e peguei a minha bike no ponto em frente ao Musée Quai Branly.  De lá, fui seguindo pelas Margens do Sena, atravessei uma das pontes, adentrei pelo terraço do Jardin de Tuilleries, peguei a Rue Saint Honoré que eventualmente me levou à Les Halles e o tão esperado Centro Georges Pompidou.  Dps de uma ida à exposição, passei a tarde passeando pelo Marais e relembrando vindas anteriores à esse mesmo local.
Romantismos a parte....é tão bom poder se deixar levar pelo lugar e se perder pela cidade, descobrir suas esquinas, observar as suas pessoas.  Eu olhava tudo...cada janela, cada vitrine, entrava nas lojas, olhava pra dentro dos cafés e restaurantes e subia na pontinha dos pés para visualizar pátios internos de prédios residenciais.  Vontade de absorver cada detalhe.  Ouvir os sons da cidade e sentir os seus aromas. 
A mais bela

O favorito

10 de maio de 2011

ENFIM, Paris

Após um início conturbado e uma temporária desconexão, enfim à Paris; cidade do glamour latente.
Momentos antes da minha chegada, não consigo conter um sentimento de que a minha vinda pra cá vai contra a minha tendência natural de desviar do óbvio.  Passar um tempo em Paris é o que há de mais clichê. No entanto, o que seria de nós sem um mínimo conhecimento do óbvio? E afinal das contas...o que há de mau num clichê?  Se adquiriu esse status, certamente deve haver um bom motivo por trás.  E é por isso que cá estou, para desvendar Paris e atribuir-lhe uma nova interpretação....a minha.
Neste meu periodo inicial, quando ainda há toda uma cidade para descobrir, faço das palavras e impressões de João Ubaldo Ribeiro, as minhas:

Já estive em Paris algumas vezes, mas, cretino topográfico que sou, nunca aprendi a andar na cidade. Assim como em relação a outras grandes e famosas cidades estrangeiras onde também já estive ou morei, sempre escolho o lado errado. “É por aqui”, digo eu, e é invariavelmente por ali, jamais por aqui. Não falha e creio mesmo que eu talvez até pudesse servir de guia para visitantes, porque, para fazer indicações corretas, teria somente que me dirigir ao lado oposto do que me parecesse certo, embora a experiência pessoal me tenha demonstrado ao longo da vida que a escolha não é simples, porquanto, depois de levar em conta essa deficiência, penso, penso e – voilà! – erro outra vez. Ou seja, não importa o tempo gasto no exame do rumo a tomar, a conclusão é invariavelmente errada, acho que se trata de uma espécie de lei científica ou imposição de um carma ingrato.
No caso de Paris, nunca conversei com ninguém que tenha estado aqui que não conheça intimamente todos os cantos da cidade, com a familiaridade de quem fala sobre seu quintal. “Ali na feirinha do Marais”, diz um, com o ar de um carioca mencionando a feira hippie da Ipanema. “Esse restaurante fica pertinho da estação Vavin, é lá que eu costumo bater um papo com o pessoal de Montparnasse, é uma turma ótima que eu tenho lá”, relata outro, até com um certo tédio por não haver canto de Paris que já não haja desbravado.
Esse quadro, para mim tão humilhante, é ainda composto pelo que meus colegas escritores e jornalistas costumam borbotar em crônicas e reportagens, ou seja, o conhecimento absoluto da obra de todos os artistas cuja vida é ligada a Paris. A maior parte, imagino eu, só não descreve sua amizade estreita com Toulouse Lautrec, Edith Piaff, Sartre ou Picasso porque eles já morreram. Se vivos estivessem, sairiam todos para jantar na Jupe Gonflante (nome que acabei de inventar) velhíssima taverna de que os Dumas eram frequentadores habituais, onde se bebe absinto e se come um fantástico canard aux sanglots longs (prato cujo nome também acabei de inventar), contanto que se seja amigo do Gilles Bavard, mitológico cozinheiro que só prepara esse prato para seus amigos pessoais e tem ataques de fúria quando alguém pede o vinho errado, pois que só admite alguns tintos do vale do Loire (tampouco sei se há vinhos tintos produzidos no vale do Loire, que também não sei direito onde fica e só sei que é na França, porque me ensinaram no ginásio) e qualquer outro deve ser rejeitado com indignação.
Que vontade eu tinha de estacar diante de um prédio centenário perto da place de la Concorde e entrar numa epifania em que me viesse à mente a obra dos grandes arquitetos e urbanistas que povoam a história de Paris e da França! Os que escrevem sobre viagens a Paris conhecem todos eles e são capazes de explicar o seu trabalho em minúcias técnicas e estéticas fascinantes, não cessando de, aqui e ali, salpicar uma palavrinha sobre os detalhes de certa cariátide que mira o Sena, ou a pequena estatueta de Baco encarapitada na cimeira no prédio carinhosamente conhecido, desde o tempo de Napoleão, como le petit Capitole (de novo, tudo inventado por mim agora mesmo), que só não conhece quem nunca saiu de Niterói. E como eu gostaria de fazer comentários como “este vinho tem uma linhagem plebeia, mas seu buquê meio sonso denuncia certa fanfarronice inocente, que cativa os paladares mais ingênuos e ocasiona uma condescendência indulgente em quem o experimenta”.
Pensei em mentir um pouco, depois de passar a noite consultando o Google, para em seguida escrever qualquer coisa como “Conversando com Monet na rive gauche”, mas acabei desistindo, não consigo a familiaridade que nos outros é congênita. Nem mesmo algo mais modesto, tal como “Uma visita ao Louvre”, até porque nenhum dos outros sequer se digna a falar no Louvre, por se tratar de coisa de iniciantes, já que, para os conhecedores, nada mais cafona do que visitar o Louvre, esse museu tão batido e algo passé, aonde só vai quem nunca esteve em Paris e aprecia a companhia de turistas americanos e japoneses. A torre Eiffel, nem pensar, o Arco do Triunfo só com um bocejo distante, a avenida Champs Elysées apenas para mostrá-la entediadamente a um parente do interior, o Moulin Rouge exclusivamente para suscitar um risinho de mofa contra quem ousa perguntar por ele. Tristes circunstâncias, que fazem com que eu me recolha às minhas limitações e, envergonhado, reconheça que não tenho nada a acrescentar ao que já escreveram e ainda escrevem os meus colegas que visitam Paris. Estou passando uma semana aqui e não me apareceu nada para escrever que não possa vir a ser tido como uma embaraçosa demonstração de insipiência terminal e completa falta de traquejo.
Dessa forma, peço desculpas a todos os que desaponto com estas observações e solicito vênia para dedicar as últimas linhas desta crônica às dúvidas que talvez ainda assaltem alguns amigos e contemporâneos lá da ilha. Ary de Maninha certamente ficará decepcionado em saber que, aqui em Paris, não vi nem sinal de mulher de peito de fora, como nos levavam a crer os filmes com Martine Carol, Françoise Arnoul e, mais recentemente, Brigitte Bardot. A Toinho Sabacu, faço saber que diferentemente do que contava o finado Maneco Brilhantina, depois de sua propalada e nunca provada viagem a Paris, nenhuma francesa tarada quis me agarrar após saber que eu era brasileiro. E, para encerrar, comunico a Zecamunista que, diferentemente do Brasil, onde todos os políticos são de esquerda, aqui muitos deles se declaram de direita. Deve ser por isso, Zeca, que a França não vai para a frente e aqui não tem nada que não seja melhor no Brasil.

4 de maio de 2011

O Céu de Berlim

25 a 28 de Abril, 2011

Poupo palavras ao falar da cidade do meu cineasta predileto... Sinto dificuldade em transcrever sensações vivenciadas ao caminhar por Berlim.
Uma cidade que ainda carrega vestígios da luta e da resistência do seu passado recente.  Vazios urbanos, remanescentes de bombardeios e demolições, exprimem uma forte carga emocional, política e ideológica.  Aqui, a infraestrutura urbana não se detém apenas ao subsolo, mas avança sobre as ruas e calçadas, colorindo os sóbrios espaços públicos - que de tão cinzas, se tornam quase impessoais, mas ao mesmo tempo, extremamente poéticos.

Alexander Platz


Mies






































Potsdamer Platz



Renzo






































Sinal de trânsito em Berlim Oriental