29 de junho de 2011

ZAHA E NOUVEL | CHANEL MOBILE ART PAVILION À L'INSTITUT DU MONDE ARABE

O “Chanel Mobile Art Pavilion”, de Zaha Hadid, está em exposição na praça do Instituto do Mundo Árabe, projeto de Jean Nouvel e Architecture-Studio, aqui em Paris.


Felizmente, essa não foi a primeira vez que tive a chance de visitar uma expo sobre a arquiteta Iraquiana Zaha Hadid. Estive em Londres, em 2007, quando o Design Museum fez uma retrospectiva de sua obra, apresentando desde os seus cadernos de croquis, às suas pinturas abstratas, as maquetes em acrílico, as perspectivas dos seus principais projetos, além de móveis e luminárias. Uma mostra que abrangia tanto uma escala urbana quanto a do detalhe.  Lembro-me que saí de lá fascinada pela imensa coerência do conjunto.  A cronologia da mostra era muito bem construída- podíamos perceber a origem do seu vocabulário e a evolução do seu traço .
http://designmuseum.org/exhibitions/2007/zahahadid
Acontece que Zaha virou queridinha da mídia.  Seu nome se tornou praticamente uma marca de luxo, e seus prédios estão sendo reproduzidos agora por toda parte. Vemos suas torres espalhadas pelo mundo inteiro – Abu Dhabi, Marseille, Los Angeles... A exposição aqui de Paris, ao invês de contrapor a banalidade para a qual a sua obra parece convergir, intensifica-a, justificando as suas formas através de um discurso altamente superficial.
A exposição não é muito grande e você recebe um headphone na entrada pra guiar a sua breve visita.  Achei irritante acompanhar a exposição com uma voz ecoando na cabeça.  Te impede um pouco de pensar e dificulta o desenvolvimento de uma análise crítica...
O discurso fazia uso de termos chaves como ‘a reinvenção da tipologia da torre’, ‘abolir a fronteira entre a torre e o entorno’, ‘qualificar o espaço público através da torre’. Me pareceu falso.  A arquitetura de Zaha Hadid tem uma pesquisa formal, ela trabalha nessa linha e já desenvolveu uma linguagem própria.  Porque negar isso? Me pareceu mais uma tentativa de atribuir um sentido político-social à uma arquitetura que não está baseada nisso.



E quanto ao Instituto em si...belíssimo!
Nouvel faz uma alusão à arquitetura árabe através da fachada do edifício. Do lado de fora, percebemos claramente essa trama.  Uma vez no interior do prédio, o desenho se perde, refletido pelos panos de vidro paralelos à fachada. Criam-se assim camadas infinitas, nas quais as formas começam a se misturar umas com as outras.






16 de junho de 2011

HOLANDA | Avant Garde

Fui para a Holanda num desses últimos fins de semana. Em três dias, conseguimos visitar 4 cidades diferentes – Delft, Rotterdam, Amsterdam e Utrecht.  Foi corrido, mas com uma programação organizada e objetiva, deu pra ver bastante coisa.
O que se torna claro é que a arquitetura na Holanda não é apenas discutida, mas é uma realidade construída. Os debates são em cima de objetos produzidos - não se detendo apenas a idéias.  Podemos dizer até que há uma maior proximidade entre a teoria e a prática, o que sem dúvida leva à um maior avanço de ambas as partes.  Faz sentido se avaliarmos a produção de alguns dos principais escritórios de arquitetura do País – OMA, MVRDV, UN Studio – todos estes buscam um debate teórico além da construção.
Em Amsterdam, vimos projetos de habitação social com soluções inovadoras.  Por vezes são empreendimentos caros, com materiais e soluções estruturais de alta tecnologia. Outros casos já são mais singelos, sendo feitos inteiramente num mesmo material - como o tijolo, por exemplo - mas cuja qualidade do desenho e o rigor da execução, é latente. 

Complexo residencial num interior de quadra em Amsterdam.























'Spacebox'– alojamento de estudantes no Campus Universitário de Utrecht. Palco para experimentações arquitetonicas.
A relação das pessoas com o espaço público é bastante interessante. Lá conferimos algo que funciona bem também na Alemanha e na França, mas que na Espanha e em países mais ao sul não demonstraram o mesmo sucesso.  Refiro-me à vivência do interior d quarteirão.  Familias aproveitam essa época do ano, quando já está mais quente, para conviver nos centros de quadras.  É um espaço aberto para a cidade, porém não chega a ser completamente público, guarda uma certa intimidade.  Aqui você não é um anônimo, como nas ruas, mas estabelece uma relação direta com os vizinhos.
No campus universitário em Ultrecht,encontramos vários exemplos da clássica solução do “Cut out” e “Fill in” – por vezes meio repetitiva, mas que não deixa de ter um certo charme. Ela torna o projeto lúdico, ao mesmo tempo que é capaz de reafirmar um conceito.  Torna o desenho do edifício como um todo mais coerente.























Cut out's and Fill In's - Edifícios no Campus de Utrecht.
O que me incomoda em alguns casos, é a sensação de que estou vendo maquetes gigantescas.  Ou obras que parecem que partiram um belo render, mas que na vida real, sem aqueles focos de luzes transcendentais, perdem um pouco do seu glamour.  Trata-se de um comentário extremamente pessoal... uma questão de gosto...mas me faz falta um certo peso na arquitetura.  Algo que encontrei no belíssimo projeto da biblioteca de Amsterdam, de Joe Coenen, na extensão ao ‘Town Hall’ no centro de Utrecht, de Enric Miralles, e no Kunsthal do OMA, em Rotterdam.




Openbare Bibliotheek Amsterdam, de Joe Coenen - a maior biblioteca pública da Europa.







Extensão ao 'Town Hall' em Utrecht, pelo arquiteto catalão Enric Miralles.






Kunsthal em Rotterdam, OMA.

11 de junho de 2011

MONUMENTA 2011 | Anish Kapoor au Grand Palais - Contemplando o Sublime

Para o Monumenta 2011, o Grand Palais convidou o artista Indiano Anish Kapoor para realizar uma intervenção em seu espaço.
A obra nada mais é do que um gigantesco balão inflado, cujas costuras atribuem-lhe uma forma particular que se adapta ao vazio do palácio. Trata-se de uma obra bastante sensorial.  A impressão que temos é de estarmos voltando ao útero.  Somos abraçados por este imenso vazio vermelho, quente e tranqüilizante. O tom avermelhado – ao qual foi designado o termo ‘le rouge kapoor’ - remete à alma feminina, pois na Índia, o vermelho representa a cor da mulher.  Além disso, lá o vermelho é também a cor da meditação, ele transmite uma serenidade e um sentido de sabedoria, gerando um sentimento introspecção entre os visitantes.
A luz entra de forma difusa, filtrada pela película de PVC, trazendo o desenho da estrutura do Grand Palais para dentro do balão. A variação do sol transforma gradualmente o objeto ao longo do dia.  Uma obra se adapta à Luz.




A ESCALA - O SUBLIME
Num segundo momento, após a experiência do interior, saímos então para contornar a escultura.  Nessa hora, deparamo-nos com a sua totalidade e adquirimos noção de sua verdadeira escala. 
Esse descobrimento arrebatador gera no espectador a experiência do sublime.  O reconhecimento de sua pequinez diante desse ser gigantesco à sua frente.
Aqui, percebemos também que o objeto não toca em nada a não ser o chão.  Ele não está preso à estrutura do Grand Palais, como poderiamos supor quando ainda estamos em seu interior.  Ele está simplesmente solto, praticamente pairando no espaço. Incontrolável, como uma criatura adormecida, capaz de se levantar a qualquer momento.
Um pequeno bônus: no site da exposição, uma série de inserções urbanas utópicas de Kapoor para Paris.  Vale a pena conferir: http://www.urbandive.com/monumenta

2 de junho de 2011

ÉPICO | Eisenman à l’ESA (École Superieur d’Architecture)

Palestra de Peter Eisenman, 20/05/2011
« Figure majeure de La déconstruction architecturale, Peter Eisenman estime que l’homme post-moderne évolue dans un univers fragmenté et incertain. Selon lui, plus rien ne justifie de placer l’humain au centre des conceptions architecturales, de conserver les idéaux classiques prônant l’unité, la hiérarchie, l’rdonnancement des élements... L’heure est venue de procéder à une «décomposition» architecturale, de déstabiliser les modèles en place.  Dans les années1980, l’ architecte a l’occasion de participer, avec le philosophe français Jacques Derrida, au concours pour l’ aménagement du Parc de la Villette.  Tous deux imaginent le Projet Chora L Works(qui ne verra jamais le jour), un espace inspiré du concept platonicien de Chôra. »
A palestra me pareceu uma apresentação de toda uma linha de pensamento e uma metodologia projetual.  Mais do que falar sobre projetos em desenvolvimento ou discutir pequenas soluções de casos específicos, Eisenman nos apresentou toda a filosofia de sua obra.
Para chegar à sua linha de raciocínio,ele precisou voltar no tempo; falar sobre o mapa Bufalini(1551) e o mapa Nolli(1748); Ele citou o filósofo Jacques Derrida, com quem trabalhou no projeto para o Parc de La Villette; discutiu conceitos de Alberti, Vittorio Gregotti, Venturi; e chegou até a falar sobre literatura, mencionando Shakespeare e Tolstoi. Um grande exemplo de como o pensamento arquitetônico não deve se fechar, mas sim tangenciar todas as outras áreas do saber.

Mapa Bufalini de Roma(1551)

Detalhe Mapa Nolli de Roma(1748)

Sobre Significado e Significante
Derrida - the undesirable relation to between sign and language.
Alberti - A coluna não deve apenas sustentar o objeto, ela precisa mostrar que este é o seu propósito.
“The time is out of joint” –  Extrato de Hamlet, do Shakesperare.  Lateness. Verb to wither.
O título da palestra assinala logo o tema principal do seu discurso: “Wither Architecture ?” Ele nos questiona: Qual seria o lugar da arquitetura?  Resposta: O tempo e o sítio.  Cada sítio possui diferentes escalas e diferentes momentos.  As escavações nos revelaram camadas de tempo sedimentadas.  O tempo se sobrepõe, e por isso o contexto deve sempre ser analisado em relação às inúmeras possibilidades de tempo e escala. A memória permanece, tal como nas ruínas romanas.  O tempo é cravado no espaço.
Para ser a frente do seu tempo (avant-guard) é preciso olhar para o passado.
Vittorio Gregotti – É preciso conhecer a história para distorcê-la.
Em 1769, cria-se o conceito do ‘Genius Loci’ – a alma do espaço. Mais ou menos na mesma época que desenvolve-se também o conceito ‘ZeitGeist’ – espírito do tempo. Eisenman distingue o Modernismo como um fenômeno do ‘Zeitgeist’.
Após segunda Guerra mundial, há um movimento de aproximação entre as artes.  A escultura muda de escala, sai do seu pedestal e se torna ‘land art’ e ‘site specific’.  Uma tentativa de se aproximar, ou mesmo se confundir, com arquitetura. 
Spiral Jetty - Robert Smithson


Richard Serra

“What for architecture now?  ‘Site specific’ would not be an adequate answer.”  
Com essa consideração, ele começa apresentar a sua própria produção.
Memorial ao Holocausto, em Berlim (inaugurado em 2005)
Passando pelo IBA Berlim, com uma releitura da malha cartesiana para a cidade no século 20, e o Memorial ao Holocausto, também em Berlim, ele chega ao recém-inaugurado Centro de Cultura da Galícia, em Santiago de Compostela. Ele se perguntou...o que levava 11 milhões de pessoas anualmente à essa cidade?  A resposta está na fantasia.  O próprio nome – Compostela que significa campo de estrelas – já faz uma alusão a isso.  A idéia foi gerar a arquitetura a partir da fantasia.
Plano do Centro de Cultura da Galícia.  Continuidade com o desenho das ruas da cidade.

 Centro de Cultura da Galícia- Alusão à fantasia, à religião e às peregrinações.
Em suas considerações finais, Eisenman ressalta como não existe arquitetura sem precedente. Não há nada de novo no mundo.  Atualmente vivemos na era da comunicação instantânea e informação em massa.  Isso tudo levou à morte da presença, e com isso, o espaço foi perdendo a sua função.  O mundo precisa dar uma acalmada.  As pessoas hoje mal param pra ler um livro grande. Não tem mais paciência.  Ele resolveu se lançar esse desafio e está agora relendo 'Guerra e Paz' ...disse também que no seu curso de teoria da história, não aceita desenhos...ele dá uma lista enorme de livros para os alunos lerem e é só isso que cai na prova. Quem não lê, não passa.
E quanto à crise econômica, que paralisou o mercado por aqui...ele diz apenas que essas crises não duram para sempre.  Diz que ele mesmo abriu o seu escritório num momento de crise. No entanto, se você não pensar no futuro, vc viverá sempre em crise.
“Do not make small projects.  They do not stir man’s blood”